Em entrevista a CRESCER, ele conta como surgiu sua paixão pela literatura infantil e uma  passagem emocionante que passou com 'O Menino Maluquinho'

CRESCER: Como foi sua relação com o desenho, à leitura e a escrita durante a infância?
Ziraldo: Desde pequeno, sempre tive uma relação muito forte com o desenho. Em minhas lembranças mais antigas, eu me vejo sempre desenhando. E ainda criança imaginava que na vida adulta iria desenhar, pintar, trabalhar com algo nessa linha. Na medida em que fui crescendo, conheci as histórias em quadrinhos e me apaixonei pelo gênero. Isso fez com que meu desenho passasse a ser narrativo, revelando-se em quadrinhos, charges e cartoons. Essas linguagens sempre me encantaram.

CRESCER: Antes de ingressar na literatura infantil, você trilhou uma boa estrada como cartunista e jornalista, tiveram ampla atuação em jornais e revistas. Como foi o ingresso na literatura infantil?
Ziraldo: Conforme fui trabalhando em meus cartoons e charges, comecei a gostar muito de escrever, um gosto que não aparecia com tanto destaque na minha infância. Fiz histórias em quadrinhos e criei a revista em quadrinhos Turma do Pererê, que era mensal e duraram cinco anos (até ser extinta pela ditadura). Com essas experiências, percebi que poderia usar essa capacidade de escrever e de desenhar para fazer livros para crianças. Foi em 1969, então, que escrevi Flicts, meu primeiro livro para crianças.

CRESCER: Onze anos depois de Flicts, você lançou O Menino Maluquinho. Com cerca de 100 edições já publicadas, o livro teve mais de 3,5 milhões de exemplares vendidos e foi traduzido para diversos idiomas. Em sua opinião, o que torna O Menino Maluquinho tão fascinante?
Ziraldo: Quando lancei O Menino Maluquinho, eu não tinha a menor idéia de que o livro teria tamanha repercussão, que um dia teria toda essa história que construiu. Acredito que o Maluquinho teve tamanho alcance nesses anos todos por despertar identificação nos leitores. As crianças lêem a história e se identificam com o personagem, sentindo algo como: “Opa, isso é comigo!”, “Eu sei o que ele está sentindo”, “É isso que eu sinto!”. Certa vez, visitando uma escola na cidade de Betim, perto de Belo Horizonte, tive esse cenário bem ilustrado. Havia um rapaz muito simples, que participava de um jornalzinho literário. Ele virou para mim dizendo que queria me contar sua experiência com o Menino Maluquinho. Emocionado, relatou: “Quando eu era menino, eu achava que eu era o cão, que dava muita tristeza para os meus pais e muitas vezes me sentia muito culpado por isso. Eu achava que não tinha futuro, que era um menino mau. Até que um dia, O Menino Maluquinho caiu na minha mão. Li o livro e pensei: ‘Meu Deus, esse sou eu, estou salvo! Vou virar um cara legal!’”. Esse menino me surpreendeu, nunca tinha imaginado O Menino Maluquinho ajudando crianças que se sentiam mal por ter alguns daqueles traços. Essa passagem me emocionou demais.

Ziraldo está relançando uma coleção de 26 livros, acaba de concluir o sétimo volume de outra coleção e tem um programa de TV semanal de literatura infantil (o ABZ do Ziraldo). Fora isso, em Salvador há uma exposição sua em cartaz – Pererê do Brasil – e, no Rio de Janeiro, está em cartaz à peça Quero ser Ziraldo. Tudo isso às vésperas do seu aniversário de 83 anos de idade.

 

 

 

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